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A fórmula amazônica

Pesquisadores do Programa AmazAlert abrem caminho inovador ao associar fatores sociais a modelos matemáticos

Desmatamento em Tucuruí mostra lado econômico do problema
Foto: Fabio Rossi/10-2-2010
Desmatamento em Tucuruí mostra lado econômico do problema Foto: Fabio Rossi/10-2-2010

RIO - A tecnologia já oferece instrumentos poderosos para monitorar o desmatamento na Amazônia, como os olhos vigilantes dos satélites. Agora, pesquisadores brasileiros e estrangeiros do Programa AmazAlert pretendem analisar as variáveis sociais e econômicas relacionadas ao corte de árvores. Estas informações vão alimentar modelos matemáticos, gerando cenários que mostrem como a floresta deve reagir à ação do homem e às mudanças climáticas.

Uma estrada, por exemplo, leva ao desmatamento não somente durante a sua abertura e pavimentação, mas também aumenta o desenvolvimento de áreas antes isoladas. Isto leva ao surgimento de lugarejos, à ampliação da agropecuária e ao incremento do comércio em áreas antes ocupadas pela floresta. Prever cientificamente ciclos como este é uma das metas do programa, cujos trabalhos começaram em 2011.

O estágio atual é considerado crucial. Os cientistas vão ouvir a opinião das pessoas que vivem o dia a dia da floresta. Para isto, será realizado um encontro entre 24 e 26 de junho, em Belém. Na ocasião, pesquisadores vão mediar os debates que envolverão cerca de 50 representantes das organizações civis; de agricultores a ambientalistas.

— Essa é uma das primeiras vezes em que vejo representantes da sociedade civil sendo consultados desde o início de um projeto científico. Os mais afetados pela mudança de uso da terra são os que lidam com ela — diz o biólogo Mateus Batistella, especialista em Ciências Ambientais e chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite. — O agricultor que tiver provas de que vai chover menos com o desmatamento, cenário que leva à perda de produtividade, talvez mude sua visão sobre a importância da floresta.

A Embrapa Monitoramento por Satélite e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) lideram as instituições brasileiras que participam do AmazAlert. No total, são 14 organizações da Europa e da América Latina, sob a coordenação do Instituto Alterra da Universidade Wageningen, da Holanda. A iniciativa faz parte de um dos mais importantes programas europeus de financiamento, o Seventh Framework Program.

A previsão é que o resultado da pesquisa na Amazônia seja apresentado no fim de 2014. No encontro de Belém, um dos principais objetivos dos cientistas será avaliar as respostas e entender o comportamento das pessoas convidadas pelos pesquisadores. Elas serão apresentadas a três cenários da floresta para 2050: o mais otimista, o intermediário e o pessimista.

— O cenário ruim mantém a média história antes de 2004, reproduzindo o desmatamento dos últimos 40 anos nos próximos 40 anos. Isso levaria a cerca de 35% da Amazônia desmatada. No intermediário, mantemos as metas do governo, que é o que vem acontecendo atualmente. E, no melhor, o desmatamento cessa, com regeneração de parte da floresta — explica a pesquisadora do Centro de Ciências dos Sistemas Terrestres do Inpe Ana Paula Aguiar. — Entre um cenário e outro, tudo depende das decisões tomadas hoje.